Dançar o que não costumamos revelar

Por George Holanda
18/08/2017

O trabalho A Quarta Parede, dirigido e coreografado por Clébio Oliveira, é centrado na figura da sua intérprete, Anízia Marques. Não apenas por ser um solo, mas por todo o significado que o trabalho passa a ter em razão dela. A fragilidade consubstanciada na figura de Anízia é o ponto fundamental da obra.

Com gestos simples, vamos conhecendo essa mulher, que de início usa uma peruca que nos impede de ver seu rosto. Uma forma de defesa. Esta peruca vira uma animal de estimação em uma coleira, que passeia com a artista. E assim o medo parece ter sido domesticado.

Vamos ao poucos entrando no mundo dessa mulher. O modo introspectivo indica que ela habita um lugar próprio, com regras próprias. Gestos infantis remetem a um ser frágil. E algumas pequenas pausas e ações mais cotidianas amplificam isso, numa dança sutil e desconcertante.

Tudo é rompido com uma fala para a platéia, a quebra da quarta parede que dá título ao trabalho. Ela nos pergunta se queremos ser felizes. Ela ri da possibilidade de crermos nessa hipótese. Numa mistura de um espírito infantil e de um muito idoso, ela parece se encantar com o simples e desconfiar do que sonhamos. Uma figura, como muitas que conhecemos, que não se encaixa nos nossos padrões sociais mais habituais, seja por uma deficiência, seja por uma dificuldade.

Nesse caso, uma mulher, com sua idade e seu corpo, que ao saltar revela e reconhece cada parte de si, de forma delicada, sem força. As quebras da quarta parede, pelas perguntas e falas que Anízia lança à platéia, demonstram um constrangimento da artista, o que também é uma exposição. E isto apenas reforça o que de frágil identificamos na própria Anízia e na sua figura que dança. Assistir a alguém se despir assim nos faz encontrar uma angústia, especialmente nas pausas, que faz cada retomada de movimento levar um tempo maior do que esperamos. Desnudar o que temos de mais frágil exige coragem.

 

Ficha Técnica

Coreografia e Direção: Clébio Oliveira

Intérprete: Anízia Marques

Ensaiadora: Rozeane Oliveira

Iluminação: Anderson Galdino

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